quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Quando o amor dá lugar ao pesadelo... (parte II)

“Acreditava que ele ia mudar”
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«Lembra-se bem do primeiro empurrão e da primeira estalada. Lembra-se bem do aparente motivo por parte do seu compa­nheiro: “Tínha­mos estado num café e a dada altura um amigo dele começou a falar comigo. Por causa disso, quando chegamos a casa, começou a chamar-me nomes e foi quando me bateu pela primeira vez”.
O que não consegue descrever é o que sentiu nessa altura. A esse primeiro empurrão seguiram-se agressões mais violentas e humilhações verbais que a magoaram “ainda mais do que qualquer estalada”. E nem a gravidez fez parar a violência. “Ba­tia-me na mesma, mesmo quando estava grávida”, assume, com o olhar cabis­baixo, enquanto recorda as vezes que ain­­­da pensou em procurar a polícia. “Eu pensava, mas na hora H arrependia-me”.Isolada dos amigos e da família, vivia com medo. Qualquer motivo era, afinal, motivo para ser agredida: “No início, quando não tinha andado na rua e ninguém tinha ido lá a casa ficava mais descansada, porque ele não tinha motivos para me bater. Mas, depois, passado algum tempo, já nem isso era impedimento. Batia-me por coisas passadas, porque no outro dia tinha feito isto ou aquilo”. Cinco meses de inferno fizeram-na, então, tomar a decisão que tanto queria adiar, sobretudo porque acreditava que era apenas uma situação passageira. “Acreditava que ele ia mudar”, confessa, com o medo que aprendeu a ter de julgamentos.
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A gravidez ajuda também a adiar a saída de casa. “Quando estamos grávidas ou quando temos filhos pequenos pensamos mais pela cabeça deles, pela falta do pai e temos a esperança de que com eles tudo seja diferente”, explica, enquanto ganha coragem para fazer a afirmação mais difícil: “Por vezes também continuamos a gostar deles. Não se percebe, eu sei, eu própria não percebo, mas o que é certo é que mesmo depois daquelas pancadas todas eu ainda gostei dele durante muito tempo”.Uma assistente social dá-lhe, no entanto, um prazo de duas horas para decidir se queria ou não ser ajudada. E foi aí, em duas horas, que a sua vida começou a mudar. Manuela saiu de casa... Ainda que com a ideia de voltar. “Encarei a saída mais como um castigo que lhe poderia dar”...»

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